" Era uma vez um anjo e um demônio que se apaixonaram. A história não acabou nada bem." - Pág. 7
" Vez ou outra, mordia amargurada a parte de dentro da bochecha, e uma pontada de tristeza a invadia de repente, como as pontadas de tristeza costumam fazer, mas Karou as deixava de lado, determinada, disposta a acabar com tudo aquilo." - Pág. 9
" Karou era, simplesmente, adorável. A pele macia, as pernas longas, o cabelo azul-celeste comprido e olhos de uma estrela de cinema mudo, ela se movia como um poema e sorria como uma esfinge. Não era só bonita; seu rosto parecia vibrante e vivo, o olhar sempre luminoso e faiscante, e tinha um jeito de inclinar a cabeça como um pássaro, os lábios pressionados enquanto os olhos escuros dançavam, o que sugeria segredos e mistérios." - Pág. 25
" - Não conheço muitas regras para serem seguidas na vida - dissera ele.
- Mas essa é uma delas. É simples. Não coloque nada desnecessário dentro de você. Nenhum veneno ou produtos químicos, nenhum vapor ou fumaça ou álcool, nenhum objeto afiado, nenhuma agulha que não seja essencial, sejam drogas ou tatuagens, e... nenhum pênis que não seja essencial também." (Brimstone para Karou) - Pág. 28
" Gênios não surgiam de lâmpadas, e peixes falantes não negociavam por suas vidas. No mundo inteiro só havia um lugar onde os humanos conseguiam desejos: na loja de Brimstone. E só havia uma moeda que ele aceitava. Não era ouro, ou charadas, ou bondade, ou qualquer outra bobagem de contos de fada, e não, também não eram almas. Era mais estranho que qualquer uma desas coisas.
Eram dentes." - Pág. 38
" Ela foi inocente um dia, uma garotinha no covil de um demônio brincando com penas espalhadas pelo chão. Mas a inocência acabou, e ela não sabia o que fazer. Esta era sua vida: magia e vergonha e segredos e dentes e um vazio profundo e perturbador, onde alguma coisa certamente estava faltando." - Pág. 48
" - Ah, sem essa, você não quer pular essa parte.
- Quero, sim.
- Pular a parte de conhecê-lo? As borboletas no estômago, o coração acelerado, o rosto vermelho? a parte em que entra no campo magnético do outro pela primeira vez e é como se linha invisíveis de energia puxassem vocês um para o outro?" - Pág. 70
" Karou desejava ser o tipo de garota completa em si mesma, que se sente bem com a solidão, serena. Mas não era. Ela era solitária, e tinha medo da sensação de vazio dentro dela como se aquilo pudesse se expandir e...eliminá-la. Ansiava muito por uma presença ao seu lado, sólida. Sentir as pontas dos dedos de alguém roçando sua nuca, e ouvir uma voz em resposta à sua na escuridão. Alguém que esperaria com um guarda-chuva para levá-la para casa em um dia de chuva, e abriria um enorme sorriso quando a visse. Que dançaria com ela na varanda, cumpriria as promessas que fizesse e saberia os segredos dela, e construiria um pequeno mundo onde quer que ele estivesse, feito apenas dela e dos braços dele, e do sussurro dele e da confiança dela." - Pág. 72 a 73
" - Sempre achei que um dia a estrada da sua vida iria se desenrolar aos seus pés e a levaria para longe de nós. Como deveria ser, como tem de ser. Mas fico feliz que hoje não seja o dia." - Pág. 75
" Lá no alto, a escuridão se condensou quando uma forma obscureceu a lua. Alguma coisa se movia de forma violenta e rápida em direção a Karou com asas gigantescas, inimagináveis. Calor e o bater de asas, o zunido do ar cortado por uma lâmina. Karou pulou para o lado, e sentiu o aço acertar seu ombro quando se chocou contra uma porta entalhada, lascada a madeira. Agarrou um pedaço, um fragmento pontudo, e se virou para encarar seu agressor." - Pág. 92 a 93
" Aqueles olhos.
O olhar dele era como um pavio aceso, deixando em chamas o ar entre os dois. Ele era a coisa mais bonita que Karou já tinha visto. Seu primeiro pensamento, incongruente mas avassalador, foi o de memorizá-lo para poder desenhá-lo depois.
A segunda coisa em que pensou é que não haveria um depois, porque ele iria matá-la." - Pág. 93
" - Os humanos tiveram vislumbres das coisas através dos tempos - dissera ele. - Apenas o suficiente para inventar todo o resto. É tudo uma colcha de contos de fada com um retalho de verdade aqui e outro ali.
- Então o que é real? - ela quisera saber.
- Se você pode matar alguma coisa, ou se ela pode matar você, é real.
Segundo aquela definição, aquele anjo era bastante real." - (Akiva para Karou) Pág. 94
" O inesperado: os hamsás.
Uma humana marcada com os olhos do demônio! Por quê?
Só havia uma resposta possível, tão simples quanto perturbadora.
Que ela na verdade não era humana." - (Akiva) Pág. 98
" Ocorreu-lhe então que toda aquela cidade devia ser habitada por quimeras, e que, além de seus muros, se estendia um mundo inteiro, um mundo com duas luas, também habitado por quimeras, e ela teve de se agarrar às barras para se manter de pé enquanto o universo parecia vibrar e se expandir à sua volta.
Havia outro mundo." (Karou) - Pág. 107
" Aquilo o surpreendeu. Através dos anos, ele havia aprendido a se anestesiar, e vivera tanto tempo com aquele entorpecimento que acreditava que a piedade e a misericórdia estavam extintas dentro de si, mas naquela noite ele fora atingido por ambas." (Akiva) - Pág. 114
" - Um homem disse uma vez: "Aquele que luta com monstros deve tomar cuidado para não se tornar um monstro também, e quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo também olha para você." Nietzsche, sabia? Bigode excepcional." (Razgut) - Pág. 117
" O velho estava certo. Ele era um monstro, mas, se era, a culpa era do inimigo. Não apenas de uma vida inteira na guerra - isso não tinha conseguido fazer de Akiva o que ele era. Fora um ato que havia provocado isso, um ato inexprimível que ele nunca poderia esquecer ou perdoar, e pelo qual, em vingança, ele tinha jurado destruir um reino." - Pág. 119
" Quem é você?, perguntou ela a si mesma, lembrando-se da pergunta do anjo e do lobo. Mas era a de Kaz que reverberava através dela, um eco que não morreria.
O que é você?
O quê?" - Pág. 125
" Era uma vez uma garotinha que foi criada por monstros.
Mas anjos queimaram a entrada para o seu mundo, e ela ficou completamente sozinha." - Pág. 133
" - É diferente porque a esperança vem de dentro de você, e os desejos são só magia.
- Desejos são falsos. a esperança é verdadeira. a esperança faz sua própria magia." - Pág. 136
" Às vezes, quando se olhava no espelho agora, vivia um momento de estranhamento, como se estivesse encontrando os olhos de um desconhecido. Quando chamavam seu nome, nem sempre entendia que era com ela, e até mesmo o contorno de sua sombra poderia surpreendê-la como se fosse algo estranho. Recentemente tinha se pegado testando a sombra com gestos rápidos para ver se era mesmo dela. Karou estava certa de que aquele comportamento não era normal." - Pág. 143
"Para ser sincero, ele não ficou tão surpreso assim. Havia alguma coisa em Karou que ativava uma credulidade incomum. Havia coisas que você nem sonharia que pudessem acontecer com outras pessoas, mas quando se tratava de Karou, passavam a ser não tão difíceis de imaginar. Karou voando? Bem, por que não?" - Pág. 179
" Ela havia mesmo ferido o anjo. Como devia, disse a si mesma. Ele era seu inimigo. O calor em suas mãos lhe dizia isso. Suas cicatrizes também, e a vida que havia sido arrancada dela também. Mas seu corpo não estava ouvindo. Estava concentrado no contato da pele deles, as mãos dele nas dela. - Mas não quero segurá-la. Se quiser me machucar, é só o que eu mereço. Ele a soltou. O calor dele a abandonou, e a noite se precipitou entre eles, mais fria que antes." (Karou e Akiva)-Pág. 184
" - Uma vida longa é um fardo quando é vivida em sofrimento." - Pág. 194
" Tinha uma tristeza que era tão profunda, mas que também podia se iluminar num segundo, e quando vi seu sorriso me perguntei como seria fazê-la sorrir. Pensei...Pensei que seria como a descoberta do sorriso. Ela estava ligada ao inimigo e, embora a única coisa que eu quisesse fazer fosse olhar para ela, fiz o que fui treinado e eu... a machuquei. E, quando fui para casa, não conseguia parar de pensar em você, e fiquei muito feliz por você ter se defendido. Por não ter deixado que eu a matasse." - Pág. 197
" Os serafins querem governar o mundo, os quimeras não querem ser governados, e isso os torna malvados." - Pág. 209
" Ele não era humano. Não era nem do seu mundo. Era um soldado com uma contagem de mortos nas mãos, e era inimigo de sua família. E, ainda assim, alguma coisa os ligava, mais forte do que tudo isso, algo com o poder de conduzir seu sangue e respiração como uma sinfonia, de forma que qualquer coisa que ela fizesse para lutar contra isso parecia em desacordo, uma desarmonia como seu eu." - Pág. 217
" Ele estava confuso.
Aquilo era impossível, e lindo, e terrível, e havia aberto seu peito para revelar que seu coração, entorpecido por tanto tempo, ainda estava lá e batia...apenas para que pudesse ser arrancado de novo, depois de todos aqueles anos?
Existe algum destino mais cruel do que conseguir o que você mais deseja quando já é tarde demais?" - Pág. 233
" Por um longo instante, eles apenas se entreolhavam. Ela inclinou a cabeça para o lado, um gesto inquisidor que lembrava um pássaro, que transmitia não brutalidade, mas curiosidade. Nenhum rosnado saiu dos lábios dela. Seu rosto parecia solene.
Inexplicavelmente, ela era bonita." - Pág. 251
" Por um instante, era isso que ele era. Não um soldado, não o inimigo de ninguém, e sua morte iminente parecia insignificante. O fato de eles viverem como viviam, anjos e monstros presos numa torrente de assassinatos e mortes, mortes e assassinatos, parecia uma escolha arbitrária.
Como se eles também pudessem escolher não matar e morrer. " - Pág. 251
" Apesar da máscara maligna pintada, seu rosto era doce, o sorriso era doce. Akiva não estava familiarizado com a doçura; aquilo o atingiu no meio do peito, em algum ponto profundo que nunca dera nenhum sinal de guardar sentimentos. Era tão novo e estranho quanto se um olho tivesse brotado de repente na parte de trás de sua cabeça, enxergando em uma nova dimensão." - Pág. 253
" Tinham sido ensinados desde o berço que os quimeras eram criaturas vis e desprezíveis, demônios, animais. Mas Madrigal...ela conseguira libertá-lo de suas intolerância em um instante, e era hora de ele tentar fazer o mesmo. - Uma quimera salvou minha vida. E eu me apaixonei por ela."' - Pág. 258
" Os Stelian eram conhecidos por duas coisas. a primeira era sua independência feroz - não faziam parte do império, tendo se recusado terminantemente, ao longo dos séculos, a se reunir a seus irmãos serafins.
A segunda era sua afinidade com a magia. Acreditava-se, nas trevas profundas da história, que os primeiros magos tinham sido Stelian, e havia rumores de que eles ainda praticavam um nível aprimorado de magia, desconhecido no restante de Eretz." - Pág. 262
" - Esperança? A esperança pode ser uma força poderosa. Talvez não haja magia real nele, mas, quando você sabe o que mais deseja e mantém isso aceso como uma chama dentro de si, pode fazer as coisas acontecerem, quase como mágica." - Pág. 266
" - Quero que você saiba...- Ele engoliu em seco. - Preciso que saiba que fui atraído até você...até você, Karou...antes do osso da sorte. Antes de eu saber, e acho que ...acho que sempre a encontraria, não importa quão bem estivesse escondida. - Ele a olhava fixamente, com extraordinária intensidade. - Sua alma canta para minha. Minha alma é sua, e sempre será, em qualquer mundo. Não importa o que aconteça...- Sua voz falhou, e ele respirou fundo. - Preciso que você se lembre de que eu amo você." - (Akiva para Karou) Pág. 278
" Espectros - como os ressuscitados eram chamados - não precisavam pagar com dor pelo poder; isso já tinha sido feito. Os hamsás eram uma arma mágica paga com a dor da última morte." - Pág. 306
" Seus pensamentos tinham voado para longe, disparando e mergulhando com as mariposas-beija-flor que afluíam aos milhares as lanternas presas no alto, e se perguntava, com o coração batendo forte e agitado, para onde seu anjo tinha ido." - Pág. 327
" Mas Zamzumin era um trapaceiro. Ele só precisava de um fragmento de escuridão para trabalhar. Ele insuflou vida nas sombras e, da mesma forma que os deuses da luz fizeram os serafins à sua imagem, assim Zamzumin fez os quimeras à imagem dele, que eram, portanto, hediondos, e então para sempre os serafins lutariam do lado da luz, e os quimeras, da escuridão, e seriam inimigos até o fim do mundo." - Pág. 346
" - A guerra é tudo o que nos ensinaram, mas há outras maneiras de se viver. Podemos descobri-las, Akiva. Podemos inventá-las. Isto aqui é o começo - disse ela, e tocou o peito dele, sentindo um ímpeto de amor pelo coração que impulsionava seu sangue para a pele macia e para as marcas, e pela sua ternura mada militar. Ela pegou a mão dele e pressionou contra seu peito, e disse: - Nós somos o começo." - Pág. 353
" Ela desviou o olhar das palmas de suas mãos para cima - de assombro para outro - e Akiva estava diante dela. Ele estava parado no pé da cama em que, apenas um momento antes, eles tinham caído juntos, o corpo dele inteiro contra o dela, e Karou entendeu que ânsia pela completude vinha do que ela havia compartilhado com ele em outro corpo, em outra vida. Ela se apaixonara por ele duas vezes. amava-o agora com os dois amores, de forma tão avassaladora que era quase insuportável. Ela o contemplou através de um prisma de lágrimas." - Pág. 356
" A lâmina cintilou enquanto descia, e Akiva caiu para frente sobre suas mãos. Ele estava despedaçado, vazio. amor, paz, maravilhamento: destruídos. Esperança, humanidade: destruídos.
Tudo o que restou foi vingança." - Pág. 358
" - A magia não vai nos salvar. O poder que seria necessário para conjurar algo nessa escala...o dízimo nos destruiria. a única esperança...é a esperança. - ele ainda segurava o osso da sorte. - Você não precisa de amuletos para isso...está no seu coração ou em parte alguma. E em seu coração, criança, ela é mais forte do que eu jamais vi." - Pág. 369
" Você foi leal a ela, mesmo que ela não tenha sido a você. Nunca se arrependa da sua própria bondade, criança, Permanecer leal diante do mal é um feito de força." - Pág. 369
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