" Os Ilegítimos não tinham direito de reivindicar a paternidade de Joram. Eles eram armas, e armas não tinham pai, nem mãe e, se uma espada pudesse reivindicar seu criador, seria o ferreiro, não a mina de onde fora retirado o metal de que era feita. É claro que isso não impedia Joram de se vangloriar do número de "armas" que tinha saído de sua "mina". Os intendentes mantinham um registro. Mais de três mil soldados bastardos nascidos no harém." - Pág. 159
" Viva sem ser notado, mate quem lhe ordenarem matar e morra no anonimato. Esse poderia ser o lema dos Ilegítimos, mas não. O verdadeiro era: Sangue é força." - Pág. 160
" Akiva olhou para o céu. Ainda estava escuro até onde a vista alcançava, mas ele imaginou sentir uma mudança no ar: uma alteração provocada pelo bater de muitas, muitas asas. Era ilusão, ou profecia, ou apenas temor.
Seria uma longa distância a percorrer naquela noite, um vasto território a cobrir, muitos quimeras a salvar. Nada de descanso para ele. O Domínio estava a caminho." - Pág. 162
" Sua vida como Karou de forma alguma a preparara para aquilo. Guerra era uma coisa sobre a qual se ouvia falar no noticiário, e ela nem mesmo assistia ao noticiário, era horrível demais. E se achava que Madrigal poderia ajudá-la, como se seu eu inteiro pudesse torná-la capaz de aceitar aquela feia realidade, estava enganada também. Por que Madrigal tinha feito o que fizera, conspirando com Akiva pela paz? Porque não tinha estômago para a guerra, mesmo fazendo parte de sua vida. Sempre fora uma sonhadora." - Pág. 169
" - Não acredito que a natureza pense em nós a não ser como um problema. Jael sorriu.
- A terra queima, as feras morrem, e as luas choram no céu ao ver isso.
- Cuidado - alertou Akiva, também abrindo um ligeiro sorriso. - Os quimeras foram criados a partir das lágrimas da lua.
Jael o olhou friamente.
- O Ruína das Feras cuspindo mitos das feras. Você conversa com os monstros antes de matá-los?
- Devemos conhecer nossos inimigos.
- Sim. Devemos." - ( Jael e Akiva) - Pág. 173
" Você só precisa começar, Lir. compaixão gera compaixão, assim como sangue gera sangue. Não podemos esperar que o mundo seja melhor do que aquilo que o fazemos ser." - Pág. 192
" O silêncio se estendeu, e por um instante ela achou que Zuzana fosse deixar aquela passar; já estava até aliviada. Não queria falar de Akiva. Não queria pensar nele. Deus do céu, queria nunca tê-lo conhecido, queria poder voltar no tempo até aquele dia em Bullfinch e seguir para outro lado no campo de batalha enquanto ele se esvaía em sangue na areia até morrer." - Pág. 221
" Como ela podia não odiar o fantasma daquela garota que não estava nem viva nem morta, não era humana nem quimera - mas o que diabos ela era, afinal? Aquilo era tão diferente de tudo, tão profundamente anormal, e...Liraz sabia que no fundo sentia ciúme, e odiava isso. Akiva era dela." - Pág. 256
" E quando seus olhos se encontraram, foi isso que Akiva viu: não a saudade, mas um brilho repentino e violento de ódio. Não percebeu que aquele ódio era voltado para ela mesma, e sentiu-se em desalento. Desviou o olhar subitamente, só então dando-se conta - tolo - de que ainda nutria esperanças. De quê? Não de que Karou fosse ficar feliz em vê-lo - não era tão tolo assim -, mas de que talvez ele pudesse ter um rápido vislumbre, um sinal, de que restara nela algo do ódio.
Mas essa esperança se desfez, deixando-o vazio, e quando ele recuperou a voz e conseguiu responder, também soou vazio. Ferido e seco." - Pág. 268
" O tremor tomou conta de sua voz, e Issa puxou uma das mãos para levar à boca. Karou ainda segurava sua mão, e gostaria de poder fazer mais. Nada faz alguém se sentir tão inútil quanto a dor de outra pessoa." - Pág. 303
" - O fim estava próximo de qualquer forma. Talvez viesse em um ano ou em cem, mas estava próximo. Quanto tempo uma guerra pode durar?
- Isso é uma charada? Quanto tempo uma guerra pode durar?
- Não, Karou. A charada é: como uma guerra pode terminar? Aniquilação é uma forma. Foi a escolhida por Joram. Ele fez isso, não você. Você sonhou com uma forma diferente. Akiva também. Vocês dois tiveram a capacidade de não odiar. A ousadia de amar. Você entende que presente incrível isso é?
- Um presente? - Karou sentiu-se sufocar. - Uma facada nas costas, isso sim! - Zuzana se mexeu na cama, e Karou abaixou a voz. - Foi uma ilusão. Uma loucura. Aquilo não era amor. Era estupidez...
- Foi corajoso - rebateu Issa. - Foi raro. Era amor, e foi lindo." (Issa para Karou) - Pág. 305
" Por um instante - ainda que apenas por um instante - parecia que a culpa era toda de Thiago, e não dela. Ela acreditara, na época, que eles tinham o Destino ao seu lado, mas o Lobo intimidara o destino, dobrara-o sua submissão, e aquele era o resultado." - Pág. 305
" Aconteça o que acontecer - dissera-lhe ele em Marrakech, pouco antes de partirem o osso da sorte - , preciso que você se lembre de que eu a amo.
Ela prometera - ofegante, incapaz no momento de imaginar uma realidade em que desejaria não se lembrar disso. E mantivera a promessa, contra sua vontade: pois queria esquecer. Mas a certeza veio rápido: Akiva a amava. Não a magoaria. Ela sabia disso." - Pág. 307
" Ziri nunca tinha ouvido falar de nada parecido com aquela história da trilha de mapas do tesouro. Exceto talvez pela história do anjo que entrara disfarçado na cidade do inimigo para dançar com sua amada." - Pág. 328
" Diziam que ele tinha sorte. Ziri Sortudo. Por ainda ter seu corpo original? Era algo que nenhum dos outros tinha, então ele não argumentava se queriam chamá-lo de sortudo, mas nunca se sentira um cara de sorte, crescendo sem seu povo, sem vida senão a guerra, e sentia-se até menos sortudo agora que a guerra tinha acabado - o que quer que isso significasse, uma vez que a matança continuava.
Então ele pensou nos gritos daqueles à beira da morte, na fumaça dos corpos, e ficou envergonhado por questionar a própria sorte. Ele estava vivo; não podia achar que aquilo não era nada, e ele não ficava vivo para sempre." - Pág. 330
" Agora, fora da bolha daquele amor tolo, Karou via como o sonho dos dois teria se tornado amargo se houvessem tido a chance de tentar concretizá-lo; teria se manchado, sujado. Aquelas marcas nunca se apagariam. Teriam existido para sempre - entre ela e Akiva, quimeras e serafins -, assim como os hamsás. Eles não podiam nem se tocar direito. Pensar que haviam acreditado ser possível unir dois pares de mãos assim fazia o sonho parecer mais louco do que nunca. E no entanto... a única esperança é a esperança. As palavras de Brimstone, na época e agora de volta, relembradas por Issa." - Pág. 355
" Não importa o que aconteça comigo, disse a si mesma. Sou uma em bilhões. Sou poeira estelar reunida transitoriamente em uma forma. Serei dispersa. A poeira estelar vai se transformar em outras coisas algum dia, e estarei livre. Como Brimstone está." - Pág. 400
" Corpos são só pesos mortos - todos nós somos apenas receptáculos -, mas saber isso era uma coisa; deixar um corpo para trás era outra. Karou entendia isso muito bem. São os corpos que nos tornam reais. O que é uma alma sem olhos para se olhar, ou sem mãos para segurar? Ela fechou os punhos para fazê-los parar de tremer." - Pág. 407